Quando a burocracia e o ego superam a empatia: reflexões sobre o desastre na BR-116, que deixou 39 mortos
Sem precedentes. Esse é o termo mais comum usado por jornalistas e autoridades ao cobrirem uma grande tragédia. Sem dúvidas, essa foi a palavra mais dita entre os dias 21 e 22 de dezembro de 2024, datas marcadas pelo acidente na BR-116, na altura da Comunidade da Lajinha.
Quem realiza as perícias e investiga tudo — e todos — relacionados ao acidente é a Polícia Civil de Minas Gerais, conhecida como a polícia científica. Sob o comando do delegado Dr. Amaury Thomaz de Albuquerque, nossa região iniciou os trabalhos de perícia, investigação preliminar e necrópsia dos corpos. Antes de mais nada, estou aqui como jornalista que viveu e presenciou tudo isso de perto. Não sou perito, mas um contador de histórias.
A equipe em Teófilo Otoni viu os altos comandos em Belo Horizonte assumirem o caso. Nenhuma palavra podia ser dita à imprensa sem o aval da chefia. A imprensa nacional e internacional estava de olho no caso. Os holofotes da mídia são extremamente perigosos para quem tem ego inflado, e este episódio nos provou isso.
Por volta das 18h, o caminhão frigorífico levou 41 sacos cadavéricos à capital, encerrando o trabalho da polícia local no que se refere aos corpos das vítimas. No domingo, às 10h, chega a informação em coletiva: 41 mortos no acidente.
Ao somar o número de vítimas no acidente e subtrair os sobreviventes, a conta indicava 39 vítimas. Mas de onde vieram as outras duas?
Tratava-se de um erro grotesco de quem mais pensou no palco montado pela mídia do que em ajudar as famílias enlutadas.
Certamente, alguns corpos não foram totalmente carbonizados. Mas por que levar todos a Belo Horizonte, se os familiares baianos poderiam vir a Teófilo Otoni identificar e retirar os corpos de seus entes queridos?
Por que não munir a equipe — pequena e guerreira, diga-se de passagem — do Dr. Amaury e dar a ele carta branca e condições de conduzir o caso?
São perguntas que, objetivamente, não teremos respostas. São questões retóricas em nosso imaginário. Mas algo ficou claro: o poder e a força das equipes que precisam de valorização, e muitas vezes, de um voto de confiança de sua chefia. Esse erro de números — evidente para nós aqui — poderia ter sido evitado.